Argumentos para quando você resolver dizer: ‘Mãe, vou pro Vietnã’

Quando resolvi contar pra minha mãe que iria ao Sudeste Asiático, ela não deu a mínima para a Tailândia, Camboja ou Malásia. O alvo foi o Vietnã. Ignorou as loucuras obscuras que os filmes contam de Bangkok; nem fazia ideia de que o povo cambojano encarou uma dura e mortal guerra civil até o começo dos anos 90 e que o país ainda tem diversas regiões com minas terrestres ativas. A bola da vez era mesmo o Vietnã.

Durante os meses de preparação para a viagem, o pânico da minha mãe dizia respeito a só esse país. Eu tinha argumentos pra todos os discursos dela, mas a preocupação parecia não ter fim. Durante a viagem, ela chegou a fazer “torcida organizada de uma pessoa só” para que minha maratona acabasse logo. Medo e precaução de mãe? Com certeza! Fundamentada? Claro que não era!

Após passar mais de uma semana no país, deixo aqui alguns argumentos que usei antes de ir – e atualizados e vivenciados após a viagem – para você dizer pra sua família no dia em que resolver falar: “Mãe, vou pro Vietnã”:

Hanói, Vietnã (Foto: Esse Mundo É Nosso)

– Mas lá não tem guerra?

A Guerra do Vietnã terminou em 1975, já faz quase 40 anos. Se você acha que ainda vai encontrar algum vestígio por lá, está enganado. No máximo visite os museus que contam a incrível e vitoriosa batalha dos vietnamitas contra os americanos, mostram as aeronaves derrubadas por eles e revelam as armadilhas usadas numa luta entre um país rico e outro que era miserável.

Museu da Guerra de Ho Chi Minh, Vietnã (Foto: Esse Mundo É Nosso)

– Só tem pobreza?

As desigualdades sociais exitem. Ricos muito ricos e pobres muito pobres. Mas o Vietnã é um país que tem crescido muito. O PIB aumentou 5% em 2012 (nosso país cresceu 0,9%) e os reflexos estão na chegada de novas indústrias e multinacionais que os vietnamitas fazem questão de mostrar durante os passeios turísticos. É um país em desenvolvimento…

Vista de Ho Chi Minh, Vietnã (Foto: Esse Mundo É Nosso)

– Então tem violência…

O Lonely Planet, um dos mais importantes guias de viagem do mundo, é enfático sobre a violência no Vietnã: “Não seja excessivamente paranoico. Embora o crime certamente exista, você precisa estar ciente de que no Vietnã ele não parece ser pior do que aquilo que você deveria esperar em qualquer outro lugar. Não presuma que todo mundo é ladrão”. E foi o que senti. Não tive medo em nenhum momento, nem durante a noite andando a pé pelas ruas. O que vi ou ouvi foram alguns golpes de espertinhos, tão comuns por aqui, como taxistas que adulteram taxímetro, batedores de carteira ou garotas de programa doidas para explorar um turista em algum bar.

– Mas fica no fim do mundo…

Claro que é muito longe do Brasil. Pra se ter uma ideia, o fuso horário é de 10h à frente do horário de Brasília. Agora dizer que é no fim do mundo… o Vietnã faz fronteira com a China, existe algum país mais no centro das atenções nos últimos anos? É só deslocar os nossos mapas da escola para a nova realidade global que colocariam essa região no centro do planeta.

– E como é que se chega lá? Nem tem voo direto.

Infelizmente não existem mesmo voos diretos do Brasil para lá. Coisa fora do normal? Não! Da mesma forma não há para Austrália, Japão ou Nova Zelândia. É preciso fazer uma ou mais conexões nessa viagem, o que aumenta as horas de voo.

– A Glória Maria mostrou que é super perigoso atravessar a rua…

São tantas, mas tantas, tantas mesmo motonetas pelas ruas do Vietnã, que cruzá-las deveria ser esporte olímpico. Mas existe uma tática simples que, se os vietnamitas se dão bem e não sofrem acidentes, por que você seria a vítima? Basta levantar a mão e ir adiante, sem olhar. Você vai ver que incrível aquele mundo de motos desviando de você. Não é tão complicado!

– Ai e aquele povo não é estranho? E a comida?

Achei os vietnamitas extremamente amigáveis. Eles adoram estrangeiros e estão sempre dispostos a ajudar. Não demora muito pra um garçom, por exemplo, ir à sua mesa e fazer uma maratona de perguntas sobre sua vida. O mesmo acontece com alunos locais, que pegam o primeiro caderninho que veem e viram entrevistadores. Eles querem conhecer os turistas. Já a culinária foi a mais “comum” que encontrei no Sudeste Asiático. Além das deliciosas frutas, o forte ali é o macarrão, seja na sopa, frito ou ao estilo italiano. Só a carne de vaca é que fez falta, não é tão comum um “bifão” como no Brasil. Mas os incríveis frutos do mar ou peixes de água doce cumprem bem esse papel e fazem a fama da cozinha vietnamita, considerada uma das melhores do mundo.

Lula e batata frita com feijão, Vietnã (Foto: Esse Mundo É Nosso)

– E como você vai se comunicar por lá?

Essa é fácil: em inglês! Tudo bem, exceto nos lugares turísticos, não é todo mundo que fala o idioma no país, mas a mímica é a língua universal. Sem contar que, ao contrário dos países vizinhos, o idioma vietnamita utiliza o alfabeto Latino, o que facilita na leitura (não são aqueles desenhinhos, como se pode ver nas palavras xin chào e không, “obrigado” e “não”, respectivamente).

– Tá bom! Então me conta o que é que tem lá!

História, cultura, diversão, gastronomia, esportes radicais, praia e belezas naturais são algumas coisas que podem ser encontrados em metrópoles vibrantes como Hanói e Ho Chi Minh (a antiga Saigon), em lugares incríveis como Halong Bay (eleita uma das 7 maravilhas da natureza), nas praias badaladas de Nha Trang e Mui Ne, nos paraísos históricos como as cidades de Hoi An ou Hue. Esses são apenas alguns exemplos de por que o Vietnã vale tanto a pena, viu, mãe?

Halong Bay, Vietnã (Foto: Esse Mundo É Nosso)

Nha Trang, Vietnã (Foto: Esse Mundo É Nosso)

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Rafael Carvalho
Mineiro fã de frango com quiabo e de uma boa cerveja, mora atualmente em São Paulo. É formado em Rádio e TV, pós-graduado em Jornalismo e trabalha há mais de 16 anos com Conteúdo Digital. Já passou por empresas como SBT e Jovem Pan FM. Apaixonado por viagens, fundou o Esse Mundo É Nosso e roda o Brasil e o mundo o ano todo sempre em busca de dicas para serem compartilhadas.
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Comentários:
Mira Tran disse:

Um dos meus amigos dizeram-me,este é um restaurante famoso brasileiro. E se não ficar no capital, não se procupe, porque também o fica em cidade de Ho Chi Minh e Nha Trang.
Beijos e Boa sorte!

Ótimo post! Minha mãe faria as mesmas perguntas, mas provavelmente, mesmo com essas respostas, ela ia chegar a conclusão de que não tem a menor necessidade de eu ir para lá – embora, se fosse para a Tailândia, ela bem que ia querer ir junto!
Lembro quando estava com passagem comprada para a Nova Zelandia em 2006, e ela estava com medo que eu fosse porque em 2004 teve o Tsunami na Ásia…
Ótimo post!

Muito obrigado, Clarissa. Imagina eu que fui pra uma das ilhas mais destruídas pelo tsunami? Mas minha mãe só ficou sabendo depois da viagem! A gente sempre convence com um papo amigo 🙂 Bjs

Juliana disse:

O melhor de todos, Rafa! Criativo e muito inteligente. Parabéns!! Fora que uma mãe preocupada todo mundo tem!!

Muito obrigado mesmo, Ju!
Beijão

Minha mãe fez várias perguntas assim no início do mochilão. Hoje em dia, ela nem tchum para nossas 'viagens exóticas'. Ela se convenceu de que não há perigos extremos por onde escolhemos viajar hahaha

Abraço!

Oi Douglas, hahaha, é que seu mochilão já testou os nervos dela.
Abração e obrigado pela visita!

Bruno Costa disse:

"A Glória Maria mostrou que é super perigoso atravessar a rua…" Rachei de rir nessa parte!! rsrs. Excelente post. Vietnã é um país que está na minha lista já. Tenho muita vontade de conhecer os museus sobre a Guerra do Vietnã.

Oi Bruno, tudo bem?
Muito obrigado mesmo! E toda cidade maior por lá tem um museu da guerra, é muito interessante, embora às vezes triste.
Abraços

Luiz Amaral disse:

Rafael,

Para de viajar e vai escrever comédia. Tenta uma vaga no Zorra total. To louco pra ter alguma coisa interessante pra ver no fim de semana.
Parabéns pelo site que está cada vez melhor.

Patricia Turomaquia disse:

Que delícia de post, ri muito, porque minha mãe faria as mesmas perguntas hehehehe
beijos

Hahahah muito obrigado, Patricia.
Beijos