Vida de blogueiro de viagem: Por que não é tão perfeita assim
Quantas vezes já ouvimos alguém fazer aquela piadinha: “Nossa! Queria ter a vida de vocês” ou “Que vida boa! Só viajam”. Esses dias uma pessoa escreveu assim: “O que vocês fizeram para ter uma vida dessas?”. Confesso que deu até vontade de contar o que a gente realmente fez. O quanto estudamos e batalhamos até hoje e ainda hoje. E como a vida de blogueiro não é tão perfeita quanto parece ser.
Também ouvimos sempre as pessoas dizerem que é um sonho não ter chefe e trabalhar de casa e como devemos ser felizes por causa disso. Mas não é bem assim, o mundo lá fora é diferente do que a internet mostra. A vida de blogueiro não é uma foto de Instagram. A vida real não é o que mostramos nos 15s do Stories.
Claro que é ótimo não ter um chefe, mas quando não se tem um chefe, nós mesmos passamos a ser nossos gerentes e subordinados e, além disso, ganhamos diversos outros chefes. Cada leitor que entra aqui e cada seguidor nas redes sociais também são nossos chefes. O Google, o Mark e sei lá mais quem que pode surgir por aí também fazem a gente ter que trabalhar dobrado. E quando estamos doentes e não trabalhamos, quem sai prejudicado? Nós mesmos! Assim como acontece com qualquer outra pessoa que trabalha por conta própria.
Não estou reclamando, longe disso. Somos felizes e privilegiados por fazermos aquilo que amamos, mas é preciso mostrar a realidade por trás dos hotéis, dos aviões e dos restaurantes.
Quando viajamos temos um propósito que é trazer o máximo de informações possíveis para aquelas pessoas que pretendem viajar para aquele local. Mas mais do que isso, precisamos nos jogar, literalmente, no chão para tirar aquela foto que tem tudo para ir bem no Instagram. Temos que parar no mesmo lugar e fazer 5x um vídeo de 15s para tentar sair o mais perfeito possível. Precisamos levar a câmera e a GoPro para tentar tirar o máximo de fotos para o blog. Não podemos esquecer de fazer algum vídeo e temos que lembrar de criar conteúdo para o Facebook.
Quanto tempo faz que não podemos sentar e realmente apreciar um pôr do sol? O momento que eu mais amo no dia. Sempre preciso tirar fotos com o celular, com a câmera, com a GoPro e ainda fazer vídeos e mais vídeos.
Qual foi a última vez que conseguimos tirar férias de verdade? Sempre que viajamos estamos trabalhando. Pode ser pra Disney. Não tem jeito. Tudo vira pauta, post, vídeo e foto. É conteúdo que não podemos perder. E com isso acordamos todos os dias com a cabeça a mil. E vamos dormir com ela assim também. Parece que não existe descanso. Se no fim de semana vamos jantar em algum restaurante, comemos frio para tirar fotos e criar mais conteúdo para o blog.
Esses dias estávamos na Praia dos Carneiros (PE), que sempre quisemos conhecer. Chegamos e tiramos várias fotos. Pensamos em fazer uma timelapse para as redes sociais. Então, nos enfiamos no mar com a GoPro, pisamos em várias pedras, arranjamos um tijolo e demos um jeito da câmera não cair. Ficamos ali parados por 1h até o vídeo acabar. Depois, chegamos ao hotel e fomos editá-lo. Achar a melhor música, pensar no tempo que ele poderia ter e cortar o que não era necessário. Uma hora virou 15s. Subimos o vídeo na maior expectativa, mas ele teve bem menos views e curtidas do que esperávamos. Como ficamos? Frustrados. Sim, essa sensação acontece com qualquer um. A mais famosa das blogueiras também tem suas frustrações.
Precisamos aprender a lidar com as frustrações e nos cobrar menos, mas é muito difícil. É você que está ali em jogo. É a sua vida. É tudo o que você tem. Aquela foto que não vai bem parece às vezes ser a pior coisa do mundo. Aquele post que não teve curtidas faz com que a gente se sinta o pior profissional do mundo. Estamos expostos o tempo todo e estamos lutando contra aquilo que não sabemos bem o que é: as diretrizes das mídias sociais, os algoritmos.
E não é só isso. A gente se mete em cada furada, anda de ônibus para gastar menos, aluga carro barato também. Tudo para tentar descobrir a melhor forma de chegar a determinado lugar, o melhor jeito de aproveitar alguma região, sempre pensando em ajudar todos os tipos de leitores, afinal, não é todo mundo que faz viagem de luxo, né? Lembro a primeira vez que fomos pra Punta del Este. Resolvemos testar um jeito econômico de ir para a Casapueblo. Compramos passagens de ônibus que nos deixou na estrada do lado da casa. A moça nos disse que na volta era só irmos para o mesmo lugar que algum ônibus passaria lá e nos pegaria. Resultado? Ficamos quase 2h esperando, escureceu, esfriou e o ônibus não passou. Não tínhamos internet e o celular não pegava. Tivemos que ficar andando no acostamento da estrada até algum ônibus resolver parar…
Outra coisa que muita gente pensa sobre a vida de blogueiro é que ganhamos tudo e fazemos tudo sem gastar. Isso não é verdade! Muito do nosso dinheiro vira investimento para o blog. Inclusive serve para comprar passagem, hotel e passeios. Não é sempre que somos convidados para ir para algum lugar ou que fechamos parcerias. Temos sim que pagar para viajar e criar conteúdo para o blog. E mesmo se somos convidados, é preciso pensar nos nossos leitores. Nunca falaremos bem de um lugar se ele não é realmente bom. É o voto de confiança de quem nos acompanha que está em jogo.
Assim como outro emprego qualquer, a vida de blogueiro também dá trabalho. Para fazer um post com dicas de algum lugar, a gente precisa pesquisar muito. Às vezes demoramos dias para conseguir concluir apenas um texto. Isso sem contar as fotos, que dão um trabalhão para editar. Mais uma vez, não estou querendo me fazer de coitadinho, muito menos reclamando da vida que levamos. Estou apenas contando que a vida de blogueiro é muito além daquilo que costumamos postar e ver nas redes sociais.
E além de tudo isso precisamos conviver com comentários maldosos, como o do menino que pediu para que eu não aparecesse mais nos vídeos porque ele havia se assustado com a minha cara. Autoestima foi pro chão. Mas quem está exposto precisa aprender a lidar com isso também.
Repito. Não estou reclamando. Não queria ter outra profissão. Só estou contando um pouco dos bastidores.
Se a gente conseguisse tudo apenas por nosso mérito, por nosso esforço, mas não é. Se na empresa normal sempre rola uma puxada de tapete ou alguém que cresceu por indicação ou puxando saco, aqui na vida de blogueiro não tem como entender ao certo como as redes sociais e o Google vão se comportar. Eles mostram nosso conteúdo pra quem querem e quando querem. Às vezes a foto realmente estava linda e iria bem, mas ninguém teve a oportunidade de ver. E como ficamos? Não temos pra onde correr ou com quem reclamar.
É aquele papo de “enquanto você se diverte a gente trabalha”. Claro que a gente se diverte trabalhando, mas não é aquele glamour todo que parece ser. Ainda é trabalho e, com isso, é muita responsabilidade. Não podemos dar informações erradas e estragar as férias de alguém. Não podemos nos vender a qualquer preço. Precisamos ter ética para não estragar em um post tudo aquilo que conquistamos até hoje. Já imaginou se um erro nosso estraga por completo as férias de alguém depois da pessoa ter ficado um ano se planejando, guardando dinheiro e esperando por aquela viagem?
É difícil, mas vale a pena. Essa vida de blogueiro é um mundo novo para todos e estamos descobrindo juntos a cada dia. Às vezes dá vontade de desistir de tudo e ficar embaixo do cobertor, mas a gente segue em frente para aprender e fazer diferente a cada dia. E vale muito a pena todo o esforço a cada comentário que recebemos de alguém que seguiu nossas dicas.
+ Desabafo após ter sido julgado pela aparências nas redes sociais
+ Não é errado querer passar a vida toda trabalhando em uma empresa
+ Viajar me fez dar importância ao que realmente importa
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Perfeito seu texto, Adolfo! Me identifiquei totalmente. Espero que em breve se tenha mais empatia pelos criadores de conteúdo. E que a paixão por viagem não se apague com esses lados negativos.
Que post Adolfo, Parabéns! Eu me sinto as vezes da mesma forma, mas vamos seguir em frente que tem muito mais para mostrar!
Parabéns mais uma vez!
Realmente, independente da profissão, sempre tem momentos de frustração. No meu caso, por exemplo, já aconteceu de ficarmos dias arrumando, enfeitando, organizando a Pousada com muito carinho e dedicação para receber aquele hóspede muito importante. Aí você passa o dia todo esperando e ele chega bem naquela hora em que você teve sair para resolver um assunto inadiável e não acontece nada como planejado. Coisas da vida de empresário!!
Ótimo texto!!
Estou a um bom tempo querendo escrever algo sobre isso e vocês conseguiram perfeitamente falar o que sinto. Faz tempo que não curto uma viagem do jeito que curtia e, mesmo quando eu digo que vou viajar sem trabalhar, como foi minha última viagem por Porto de Galinhas e região, estava la eu no fina do dia fazendo snaps e preocupado e postar fotos.
A vida de blogueiro é muito mais puxada do que muito trabalho por ai e infelizmente temos que ouvir diariamente: mas blog não é trabalho ou ahhh vc trabalha com blog, mas é de boa. Pelo menos já aceitei e sei que ouviremos isso sempre, então nem me preocupo mais.
Abraços
Texto perfeito!! É tipo, a gente se ferra (um pouco), mas se diverte (muito)!!! Outro dia mesmo, estava conversando sobre isso, de ter vontade de largar tudo pra lá, chutar o pau da barraca. Mas dai a gente sai, vê aquela paisagem linda, passa por um caminho fofo e bucólico, descobre uma pousadinha no meio do nada que é uma lindeza e quer contar tudo isso no blog. Ou então acontece de tudo isso não “bombar” como a gente esperava e dai posta uma foto de um prato qualquer experimentado em um restaurante e o povo cair em cima, querendo saber onde é, quanto foi, como chega lá!!! Loucuras do mundo internético, que parece estar zoando com a nossa cara o tempo todo. Mas como diz na minha terra: “não podemo se entregar pros home de jeito nenhum. Nossa vida é de peleia”… beijos
Acho que é impossível não se identificar com esse post. Especialmente, como disse Fabio, porque muita coisa é imprevisível e às vezes é difícil administrar isso psicologicamente, né? Em relação a todas as viagens serem “trabalho”, realmente sinto muito isso… Mas quando vou pra praias perto de casa que já viraram post no blog, aproveito pra desconectar, senão enlouqueço haha. Valeu pela reflexão. É sempre bom lembrar que não estamos sós. 🙂 Um abraço!
Ótimo texto, traduz muito das coisas que estamos sentindo. Principalmente a frustração quando algo não sai como esperado. Esse segundo semestre confesso que dei uma cansada e nossa última viagem, para o Rio, foi sem planos, sem pautas. Mas como a gente não resiste, acabamos postando algumas fotos no Instagram e, surpresa, foram super bem. Enfim, é tudo muito imprevísivel, o que torna nossa profissão um desafio ainda maior. Abração.
Adorei o que escreveu!…tô com vocês e é por aí mesmo. No meu caso que é mais gastronomia escuto a mesma coisa. Que vidão, comendo essas coisas caras…enfim. Ninguém imagina que tem dia que estou a fim apenas de uma saladinha bem simples e por ter uma degustação marcada tenho que estar comendo comidas condimentadas para avaliar o chef e o restaurante. Portanto, as pessoas e leitores tem que avaliar que toda a profissão tem seu lado bom e ruim.
Abraço e sucesso
Luis Guilherme Zenga
CONCEITO DE LUXO
Penso exatamente assim.
Não tenho no blog minha principal atividade, mas se ao mesmo tempo amo, não posso negar que existem sim grandes dificuldades neste empreendendorismo digital.
Tempo livre: lendo algo para programar a próxima viagem e post; ou escrevendo e trabalhando nas fotos.
Duas coisas que são incríveis é o fato que às vezes nos vemos fazendo programas que nem são do nosso gosto em viagens. Mas acabamos cobrindo em prol dos leitores.
Ou quando você vê as pessoas te cobrando posts ou destinos, às vezes destinos para os quais você ainda nem foi.
É maravilhoso, mas não é aquela vida de fantasia do Instagram.
Parabéns pelo post no melhor estilho vida nua e crua.
Abraço.